terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

"Ainda estou flutuando" - por Amanda Reis

"ainda estou flutuando"

Lírios, delírios, delícias de uma amiga sonhadora que realizou e convidou pra dividir. Divididos que se juntaram, silêncios extensos para reparar. Prender o ar para apreender o entrar do canto em cada canto dos ouvidos. Sentidos tão sentidos, tão recebidos, tão perceptivos.
Domingo foi dia de Talita!
Talita Rustichelli é uma amiga. Jornalista e cantora, me daria motivos suficientes para admirá-la, mas ela veio extrapolando.
Na noite de ontem, um exemplo: ela arrancou um silêncio estridente dentro de um teatro lotado de gente diferente. Eu vi criança dançando, eu vi vovó balançando, mas eu vi num momento um silêncio. O maior silêncio que eu já ouvi.
Quando vi, eu estava sem ar por falta de ruído. O silêncio bateu estúpido no meu peito e senti a garganta mandando o ar não passar. Era preciso manter aquele silêncio.
"Se pergunte o que você fez por você", ela cantava no momento do maior silêncio. Quanto percebi, eu estava dentro da partitura, pregada na pasta aberta diante do microfone dela. Busquei os olhos que me acompanhavam na poltrona ao lado. Mas meus olhos não viravam, e senti que o menino bonito engoliu um gole seco, de boca fechada e respiração interrompida. Ele também estava lá na partitura dela. Nós todos, os duzentos ou mais, estávamos pregados lá.
De todas as lembranças, esta está cravada no pé da garganta.
Hoje eu sabia que eu era das pessoas mais privilegiadas do mundo por ganhar aquele momento. Falando há pouco com a Talita, ela resumiu na frase que dá título a este post. E agora eu tenho a certeza de que eu também flutuei.

Fica, então, aqui o registro sobre alguns segundos de uma noite inteira de surpresas e suspiros.
Não postarei fotos, não fotografei dessa vez, optei por apreender os sentidos.
Talita Rustichelli lançou na noite de ontem seu CD "Tudo é Bom", em show realizado no Teatro Castro Alves, na cidade de Araçatuba-SP.
Dá pra encontrá-la pela página do Facebook.


Amanda Reis - jornalista
27 de janeiro de 2014

UM CD GOSTOSO - por Marcelo Teixeira




UM CD GOSTOSO 
(por Marcelo Teixeira - 04/02/2014)

Procuro a palavra certa para bem adjetivar um CD que comprei hoje. Penso, penso e penso e não encontro nada melhor que “gostoso”. Pois é isso que ele é, muito gostoso. Antes que uma mente mal intencionada perverta o sentidode meu comentário, explico.

Há muito tempo eu não comprava um CD tão bom. Hoje, após acompanhar uma entrevista de Talita Rustichelli à rádio Cultura FM, interessei-me em adquirir “TUDO é BOM”. Fui à banca do Pedrinho, desembrulhei o produto e, já no carro, fui surpreendido com uma faixa melhor que a outra.

Deliciei-me com algumas no automóvel, com outras, no escritório. Comecei com leve sorriso, daqueles de canto de boca, de quem está verdadeiramente contente, e passei a riso mesmo com o “vôti”, ao final da atualíssima “Amor Analfabyte”.

Daí pra frente comecei a caçada ao adjetivo. Seria sensacional, como ficou “Faz a canção”, de Márcio Kadá, em piano e voz? Maravilhoso, como “Contigo até o fim”? Não, não, não. É mais do que isso e, ao mesmo tempo, mais simples de explicar.

Ôpa, esquentou. É sim complexo como em “Matinal” dizer “(...) vendo Deus, achando que o céu existe”, e bem simples como o “puta que pariu” em “Festa pra você”. É elegantemente simples como os sapatos de boneca, o vestido verde e o casquete na cabeça da cantora.

Aliás, devo dizer que todo o CD merece elogio. As fotos, o encarte, a impressão, tudo é de bom gosto, como uma roupa leve e clara neste calor senegalesco, como uma nova e deliciosa receita frugal (e glutão como sou, posso dizer isso), como uma gargalhada sincera em uma piada inteligente.

Foi aí que achei. Tudo é de bom gosto... é gostoso!

Tenho que deixar claro que não preciso elogiar a artista, pois nem posso dizer que a conheço, afinal de contas até hoje trocamos apenas meia-dúzia de palavras. Apenas sei que, como eu, é jornalista. Mas, diferentemente de mim, tem talentos. Escreve muito bem, canta e toca melhor ainda. Eu, no máximo, escrevo corretamente, e fui não mais do que cantor de festinhas na faculdade.

E, tendo meu dia alegrado, tive vontade de dizer: no CD de Talita Rustichelli, tudo é bom.